Observei Fernanda durante a aula de matemática. Um rosto pálido, quase sem o brilho que eu acostumava admirar. Nos últimos dias, ela não estava indo ás aulas. Parecia cansada e muito triste. Eu não sabia o que estava acontecendo então decidi perguntar. Eu estava sem jeito. Apenas com um pouco de coragem. Pensei: Ela não vai querer falar sobre isso se for algo grave, ainda por cima pra alguém como eu, que não tenho amigos e mal falo com ela. Mesmo com esse pensamento, decidi falar com ela.
Ela estava sentada no jardim da escola e parecia que estava chorando, então me sentei ao lado dela e perguntei. Ela deu um pequeno sorriso, daqueles bem desanimados e depois o desmanchou.
Ela estava sobre pressão. Foi o que ela me disse. Seus pais queriam que ela fizesse o que eles diziam, mas ela queria poder escolher. E isso estava fazendo mal a ela.
Me lembrei de um momento parecido que aconteceu comigo. Era como uma prisão imaginária, onde não havia buracos para fugir. Era tanta pressão que me dava agonia. Eu não conseguia sequer dormir. Meu pai escolhia tudo e eu era obrigado a aceitar. Não era justo. Quando digo tudo, é porque era tudo mesmo. Tinha que ser do jeito dele. Eu não tinha direito de dar uma opinião. Até mesmo quando eu tinha que comprar alguma coisa.
Eu tinha o hábito de passar no shopping depois da escola para comer alguma coisa na praça de alimentação. Uma vez, quando meu pai foi me buscar, nós passamos por lá e nos sentamos numa das mesas do McDonald’s. Eu sempre pedia um hambúrguer grande com bastante batatas fritas. Era o meu preferido. Nesse dia eu estava prestes a pedir quando ele interrompeu. Disse que eu não podia comer aquilo porque podia não ser bem preparado. Na verdade, ele fez um discurso. Até perdi a fome. Me zanguei e fui para a casa sozinho. Eu já estava cheio daquilo. Era minha mãe dando opinião sobre o que eu ia vestir e meu pai sobre que profissão eu seguiria. Era muito chato. Ele queria que eu fosse médico como ele, mas eu queria cinema. Me inscreveu em um milhão de concursos dos quais eu errei tudo de propósito mesmo sabendo que ele me mataria depois . Agora me diga; quem agüenta? Por que não nos deixam fazer as nossas próprias escolhas? Eu fiquei mal por causa disso e vejo que Fernanda também. É como se não estivéssemos vivendo. Como se nossos pais vivessem por nós. Como uma prisão mesmo só que pior e bem mais dolorosa.
Nós viramos seus robôs. Não podemos falar, apenas ouvimos. E eles nos controlam com seus controles imaginários.
Jackie, eu achei muito legal esse post sobre essa situação de falta de liberdade. Tenho certeza de que ao ouvir Fernanda, ela se sentiu bem em poder compartilhar algo que a aprisionava. Sou pai, e sei que há muita diferença entre querer bem e querer anular. A beleza do jovem é justamente sua capacidade de ter sonhos próprios. No entanto, nem todos os pais conseguem perceber, amigo. Abraço e parabéns pela postagem!
ResponderExcluirJefhcardoso do http://jefhcardoso.blogspot.com